"Não se iluda, minha calma não tem nada a ver... Sou bandido, sou sem alma e minto..."

"Não se iluda, minha calma não tem nada a ver... Sou bandido, sou sem alma e minto..."

domingo, 23 de setembro de 2012

Um camarada (à Manoel de Assis)


Já destilamos ofensas.
Por admiração
e arrogância.
Reconhecíamos seus feitos.
Mirávamos na televisão
e estavas falando.
Socialismo,
 trabalhadores
e política...
Somos jovens,
queremos isso!

Parecia mais forte
e mais intelectual.
Era apenas um operário
de uma firmeza de invejar.
Revolucionário!
Com uma fé no futuro,
inabalável!
O seu melhor para humanidade
fica guardado em nossos corações
e mentes.


Trabalhador,
como muitos.
Sem posses,
pobre.
Desempregado.
Um herói;
não daqueles
que pensam somente.
Daqueles que lutam,
incansavelmente,
por toda uma vida
e têm legado para deixar!
Àqueles mesmos jovens,
arrogantes,
que chegaram a te desprezar.

Admiramos-te mais ainda.
Daquela arrogância,
vergonha.
Deixamo-la de lado.
Imaginamos-te de vermelho.
O rubro não ressentido.
A pálida face.
O gélido leito.
Choro.
Já sentimos saudades.
E luto.
(Suspiros)

Ora, não te vi nesse momento,
mas senti.
Li e não acreditamos nas notícias.
Páginas e páginas das fotografias do teu corpo
Revelavam:
Ele voltou, com fome!
Consumindo cada grão do teu decrépito corpo.
Sua cabeça não quer descansar.
Porém suas lembranças também serão consumidas.
(Últimos suspiros)

É o fim...
Descansou o descanso dos justos.
Num mundo injusto!
Lutou, até onde foram suas forças
(Mais luto.)

Uma vida, um legado
E o respeito por quem nunca se vendeu
Nunca se curvou
E por que nós deveríamos nos curvar?
(Mas luto?)

Viver, indignar-se.
Como não há de se sentir náuseas neste mundo?
Uns tem suas vidas abortadas assim:
explorados;
cancerificados nas caldeiras das indústrias;
exala-se o tóxico,
trabalha-se,
morre.
(Sim, nós lutaremos!)

Camarada Manoel?
Sempre presente...