"Não se iluda, minha calma não tem nada a ver... Sou bandido, sou sem alma e minto..."

"Não se iluda, minha calma não tem nada a ver... Sou bandido, sou sem alma e minto..."

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Queimadas

Sou vento.
Arredio,
sopro ali e acolá.

Não posso ver chama.
Assobio
para ela alimentar.

És fogo.
Tens brilho próprio,
mas precisas de alguém
para alimentar-te?

Eu sei,
se sou vento
e és fogo,
nunca me cansarei
de ao simples suspiro
prover a tua chama
do mais puro oxigênio
e aumentar a tua fome.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

São Paulo-Maceió

Difícil acreditar.
Sons de carros
e janelas
fizeram-me recordar
o barulho das ondas
e o verde do meu mar.

Não que São Paulo
seja tão Maceió.

Talvez devaneio,
ou saudades do meu lar.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Vento e Terra

Sou vento,
estabanado
e afoito;
sopro em qualquer direção.

Ora sou brisa,
fina
e calma,
acariciando tua face.

Ora sou tempestade,
impaciente
e impulsivo,
rompendo teus tímpanos.

Ora sou sul,
frio
e seco,
ignorando tua presença.

Ora sou tropical,
quente
e úmido,
levando-te a gozo.

Se sou vento,
por que ousas prender-me?

Logo tu,
que és terra.
Firme,
forte
e que chora ao ser agredida.

Talvez,
terra,
não consigas me prender.

Talvez,
terra,
pretendas me acalmar.

Torna-me-ei brisa,
um vento quente e úmido dos trópicos,
só para te agradar?

Sem mim,
terra,
não fertilizarás?
Não brotará de ti
fruto sequer?

E sem tu,
terra,
não poderei mais
percorrer
toda essa imensidão?

Sem a terra
eu perco meu direito
de existir?

Se sou vento
e és terra.
Espalho-te pelo mundo,
para sempre ter
um pedaço de ti.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Manifesto

O punhal
encravado em minha carne
é a verdade
soluçada em pranto.

Toda cólica
tem um pouco de cólera,
de vísceras retorcidas
em dor.

Gostaria de falar
das alegrias cotidianas,
da alvorada barulhenta
e do quarto
sem ângulos retos.

Obtuso aos problemas,
agudo no sofrimento.
Estou farto dos sentimentos retos.

Incongruentemente,
vivo.

Viva toda cólica,
todo sentimento
nascente da mais pura
angústia!

Só acredito naquilo
que dói,
que aperta o peito,
ou que faz o coração saltar.

Abaixo todo sentimento
encarcerado
no gradil das costelas!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

- Poema pílula II -

Se o mar estivesse aqui,
seria mais fácil chorar.
As lágrimas iriam se confundir
com todo esse gosto salgado.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Dialética da Saudade

Uma tristeza-feliz,
ou uma felicidade-triste?
A melancolia depressiva dos domingos.
A nostalgia das boas lembranças

Saudade,
ora triste,
ora feliz,
ora os dois.
A representação do novo,
o movimento ativo
da união de contrários.

A palavra que falta em outras línguas.
Síntese de tudo que é humano,
e por sinal, concreto.
Materialmente dialético.

domingo, 11 de julho de 2010

- Poema pílula -

Dentre as formas de se matar
escolhi a mais lenta.
Sofrer, sofrer e sofrer;
para ver até onde meu corpo aguenta.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Espelho

Ao olhar no espelho
a imagem refletida
não é a mesma.
Sonhos, medos e feridas
tudo novo
inclusive essa lágrima.

Vejo-me um homem
melhor.
Derrotado?
Não mais.
Talvez confuso,
sem paz.

Esse reflexo distorcido.
Com partes nítidas,
outras nem tanto.

Por hora resignado
a sofrer
e, paradoxalmente,
proteger.

E o espelho não é apenas retrato.
É movimento.
É mudança.

Se houver certeza,
de te amar.
Talvez seja tarde.

Mas quem nunca teve medo de sofrer.
Resignar-se-á a lutar por seu amor.

Esse espelho é vidente.
Não só vê futuro,
mas também passado e presente.