Às vezes eu tenho a poesia.
Viva!
Em minha cabeça.
Não fujas poesia!
Necessito lembrar dos laços.
Das vidas passadas diante da minha própria vida.
Sou poeta recortado.
Falo de amor
e de tristezas também,
as saudades
dos vários tons de verdes
da mistura dos vários “eu”s.
Um que sofre,
outro que goza.
Esse que reflete
Aquele que simplesmente beija
e este que se autocritica.
E eu?
perco-me,
obsessivamente,
em pensamentos picotados,
nas lembranças esquecidas,
em poesias não construídas.
Cada palavra perdida,
é um amor que não vira poema,
é a lágrima que teima em não descer,
a angústia dilacerante que atormenta o peito.
O pior é saber:
A poesia que ousa não terminar,
que se perde em lapsos de vida
sem a garantia de se completar.
Esse quebra cabeça,
de peças mal encaixadas
e recortes imprecisos.
Traz a imagem borrada
de um rosto desfigurado
por violência a alma
e pela madeira,
que castiga o corpo.
Ah, a nossa memória.
Trai-nos constantemente.
Finge-se de torta.
Faz curvas e rodopios
até se tornar consciente?
O choro compulsivo
Revela o poeta traído.
(Suspiro e tomo coragem)
Mas mesmo assim
mostra sua poesia.
Sem medo de risos
ou picardia.
Não é obra prima.
Mas cada palavra é uma gota
daquele suor frio angustiado?
Das vísceras que se retorcem
reveladas em poema?
Tudo isso porque me pus a escrever
sobre este mal-estar desconfiado.
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